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HISTÓRIA 🇧🇷 Um príncipe, um Projeto e o 7 de Setembro

 

Por; Fábio S. Santa Cruz

No ano de 1822, o príncipe Pedro de Alcântara talvez pudesse ser chamado de indeciso. Por um lado, dizia sem hesitar que o Brasil já era autônomo e possuía um governo próprio, separado do governo de Portugal. Ele usava até a palavra “independência” para enfatizar essa autonomia brasileira. Ao mesmo tempo, o príncipe reafirmava sua submissão ao rei de Portugal, D. João VI, seu pai. Submeter-se ao rei de Portugal era contrariar a ideia da independência, é claro.

Não era indecisão. Era um projeto. A ideia era manter um único rei para Portugal e Brasil, mas com dois governos separados e autônomos. Absurdo? Nada disso. Entre os britânicos, esse projeto deu certo. Veja o exemplo dos canadenses: continuam até hoje leais à Coroa britânica (os cidadãos canadenses são súditos da rainha Elizabeth), mas o Canadá possui um governo próprio, totalmente autônomo. É assim também com outros países, como Austrália, Nova Zelândia e Bahamas.

O príncipe Pedro chegou a convocar uma assembleia constituinte só para o Brasil em 3 de junho de 1822 (três meses antes do 7 de setembro). Mas declarou que aquela assembleia brasileira deveria respeitar a união da “grande família portuguesa” e que os constituintes deveriam proclamar como rei do Brasil o seu pai, D.João VI. Repetindo: não era indecisão nem ambiguidade. Era um projeto.

A situação mudou em 7 de setembro. Depois do famoso grito às margens do Ipiranga, o príncipe Pedro dirigiu-se à cidade de São Paulo e, na noite daquele mesmo dia, foi chamado pelos paulistanos de “rei” e de “imperador” do Brasil. A cidade estava em festa. Na Casa de Ópera, que estava lotada, Pedro foi recebido com entusiasmo. Ele poderia considerar tudo aquilo uma traição ao seu pai-rei, mas assimilou em paz. Não reprovou as manifestações. Aceitou-as.

A partir daí, os fatos se precipitaram.

No Rio de Janeiro, o 7 de setembro repercutiu de modo decisivo. Os partidários da independência total perceberam que era o momento de cortar o último laço. Clemente Pereira, em nome da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, anunciou a data da aclamação imperial de D. Pedro. E ninguém contestou ou discordou.

A cerimônia, grandiosa, aconteceu no Campo de Santana (Rio de Janeiro), em 12 de outubro, dia do aniversário do próprio Pedro, que completava 24 anos de idade. Foi o fim oficial da antiga união Brasil-Portugal. Portugueses na Europa com o seu rei João, brasileiros na América com o seu imperador Pedro, cada povo para o seu lado. A separação definitiva estava feita.

A ruptura, realmente, se deu nessa cerimônia de 12 de outubro. O próprio imperador Pedro I pensava assim. Mas a cerimônia de aclamação foi resultado do grito do Ipiranga e daquela agitada noite paulistana de 7 de setembro. Foi ali que caiu, enfim, o projeto “um único rei para dois países” e se impôs abertamente um outro projeto: “Pedro imperador do Brasil independente”. Essa é a relevância inegável do dia 7 de setembro, que acabou se tornando símbolo nacional e ganhou muito mais força do que o 12 de outubro, data esquecida da nossa história.

 

* Fábio S. Santa Cruz é mestre e doutor em História pela Universidade de Brasília (UnB) e professor titular de História do Brasil na Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Redação GOYAZ

Redação: Telefone (62) 3093-8270

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