GEOVANA NASCIMENTO | Criminosos usam IA para decifrar senhas digitadas em teclados de computadores
Apesar de tais sofisticações dos crimes digitais assustarem os usuários de internet cada vez mais, especialistas explicam que é possível continuar navegando na internet com segurança
De acordo com o Jornal The Guardian, um estudo publicado pelo instituto IEEE European – Advancing Technology for Humanity (em tradução livre: Tecnologias Avançadas em prol da Humanidade) – revelou que ferramentas de Inteligência Artificial (IA) são capazes de identificar quais teclas de um teclado estão sendo digitadas por meio do som emitido no momento em que são pressionadas. Para isso, são usadas plataformas de vídeo conferências, como o Zoom. Essa capacidade de decifrar o que é digitado, além de colocar em risco informações confidenciais, desbloqueou mais um medo nos internautas, já que a criatividade para o crime no meio digital parece não ter fim.
O CTO do escritório Rafael Maciel Sociedade de Advogados, Agnel Jarede, explica que descobrir senha por meio do som do teclado não é exatamente uma novidade. Segundo o especialista, o formato se assemelha ao problema que as empresas de software sofreram em meados de 2006 e que perdurou até 2011, com a explosão de malwares vinculados à invasão de webcams (câmeras de notebooks e computadores). “Existem ainda muitas tipologias de ataque para esse componente do computador. Porém, durante esses anos, houve investimento em engenharia de segurança para webcam e o microfone acabou passando despercebido, o que agora renderá novas estratégias e estudos para combater esses crimes”, destaca.
Agnel explica que o ataque começa quando um malware está em algum anúncio ou proposta vantajosa vinculada a um link de endereço eletrônico de origem desconhecida ou duvidosa. A vítima acaba clicando nesse link que nada mais é do que um micro driver que será instalado no microfone do dispositivo e que passará a ser uma espécie de escuta. “Uma vez instalado, o criminoso com acesso a esse componente possui uma engenharia controlada por IA. Aos poucos, essa máquina aprende o som que sai na medida em que cada letra, número ou caractere é pressionado”, conta. Conforme apresentado pela pesquisa, o sistema foi capaz de “adivinhar” a tecla correta com cerca de 90% de precisão.
Não há motivo para pânico
Apesar da sofisticação desse tipo de crime ser motivo de medo, o advogado especialista em Direito Digital e Proteção de Dados Rafael Maciel tranquiliza os usuários de internet. Ele avalia que as vulnerabilidades também existem na sociedade, nas relações tradicionais, mas que é possível ter segurança, com a adoção de alguns cuidados. “Da mesma forma que, fora da internet, você terá a atenção de fechar a porta do carro e da casa e pensar onde você vai andar, se é em uma região mais perigosa, o mesmo nível de cuidado que você tem que ter, mas na internet”, esclarece. Para ele, da mesma forma que as novas tecnologias podem trazer riscos, também podem trazer segurança, e que a chave é buscar se orientar cada vez mais sobre os métodos de se proteger.
Rafael pontua que cuidados tradicionais na internet, como não clicar em links suspeitos precisam fazer parte de uma cultura de segurança, que deve ser implementada cada vez mais nos processos empresariais e nas rotinas individuais. “Pessoas que não nasceram habituadas com o uso da internet, como idosos, por exemplo, têm a tendência de confiar mais no ambiente virtual e não perceber os riscos. Contudo, a partir do momento em que há um aculturamento, aceleramos a formação de boas práticas que podem nos ajudar a ter mais segurança. Claro que essa confiabilidade não é completa, assim como não é no mundo real, no qual sempre temos que ter alguns cuidados também”, observa.
Pensando nisso, Rafael enumera algumas recomendações importantes para garantir maior segurança:
1 – Cuidar das suas informações pessoais e profissionais
Não se deve postar endereço residencial, número de documentos e outros dados em redes sociais e sites desconhecidos. O mesmo vale para os detalhes a respeito do trabalho, porque essas informações podem ser usadas em golpes na internet e de inúmeras outras maneiras.
2 – Utilizar senhas fortes e troque-as com frequência
Crie senhas difíceis de quebrar, utilizando letras minúsculas e maiúsculas, símbolos e números, com uma combinação longa. É importante também nunca usar a mesma senha para diferentes serviços, além de ser ideal trocá-las com uma certa frequência.
3 – Não abrir anexos de e-mails suspeitos
Desconfie de faturas de operadoras diferentes da sua ou cobranças não reconhecidas, pois é assim que boa parte dos vírus se espalham e, para diminuir os riscos, desconfie até mesmo dos anexos enviados por conhecidos, pois eles podem nem saber que o link está infectado. Mande essas mensagens para o lixo, sem abri-las.
4 – Desconfiar de ofertas muito generosas
Há inúmeros golpes virtuais que se utilizam do interesse em ofertas e preços baixos na internet, fazendo que as pessoas cliquem em links maliciosos.
5 – Utilizar a autenticação em dois fatores
Para evitar que desconhecidos tenham fácil acessos às informações, a autenticação em dois fatores é um recurso essencial em todos as redes sociais e plataformas que você utiliza.