Desmatamento na Amazônia recua pouco no primeiro trimestre de 2022
- Desmatamento no 1º trimestre de 2022 é superado somente pelo de 2021;
- Ao todo, foram destruídos 687 km² de mata nativa – área da cidade de Salvador;
- Desse total, quase metade ocorreu no Mato Grosso;
A Amazônia brasileira perdeu apenas nos primeiros três meses de 2022 uma área de floresta equivalente à de Salvador. Segundo o monitoramento feito pela ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), foram 687 km² de mata derrubada, o segundo maior acumulado para o período desde que a instituição iniciou seu monitoramento por imagens de satélite, em 2008. Apenas os primeiros meses de 2021 foram piores. No ano passado foi constatada a maior derrubada da floresta em uma década.
Na comparação com 2021, quando a floresta perdeu 1.185 km² de vegetação nativa, houve uma redução de 42% no desmatamento. A maior queda ocorreu em Março, quando o monitoramento registrou 85% menos derrubadas do que no ano anterior.
Os pesquisadores do instituto, no entanto, alertam que é cedo para comemorar. “O fato de termos a segunda maior área desmatada em 15 anos mostra que o desmatamento ainda segue em ritmo intenso, e tende a aumentar nos próximos meses, pois entraremos no período seco, quando historicamente a derrubada é maior”, afirma Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
Em março, 46% de todo o desmatamento registrado ocorreu em Mato Grosso Esse foi o terceiro mês consecutivo em que o estado liderou o ranking na região. Além disso, metade dos 10 municípios que mais desmataram ficam no Estado. Nova Ubiratã, Juara, Feliz Natal, Porto dos Gaúchos e Juína juntos somaram 35 km² de floresta derrubada.
Em segundo lugar ficou o Pará, que apresentou um problema grave de derrubadas dentro de duas unidades de conservação, a APA Triunfo do Xingu e Flona do Jamanxim. Elas foram as áreas protegidas com maior derrubada na floresta em março, 5 e 2 km², respectivamente. Esta última possui intensa atividade garimpeira e pode ter contribuído de modo decisivo com a poluição do rio Tapajós que afetou até mesmo um dos cartões postais paraenses, Alter do Chão.
Um laudo pericial da PF (Polícia Federal) analisou imagens coletadas de julho de 2021 a janeiro de 2022. Elas mostram a evolução dos sedimentos desde os rios em Mato Grosso e o “aumento drástico” na quantidade de sujeira ao passar pela região dos rios Crepori e Jamanxim. Segundo a análise, a “pluma de sedimentos” que turvou as águas teve origem ainda no estado de Mato Grosso no final de outubro e início de novembro de 2021. A PF realizou no início de fevereiro uma operação contra o garimpo ilegal dentro da Área de Proteção Ambiental do Tapajós entre o rio Crepori e a terra indigena Mundukuru, no município de Jacareacanga.
Ao sobrevoar os buracos abertos na floresta, o que se vê é uma mistura do pouco verde que sobra após a ação humana com a terra esbranquiçada devido à concentração de argila citada pelo perito no laudo. A argila se amontoa ao lado de crateras cheias de água que foram abertas com jatos de água e escavadeiras. São esses sedimentos de cor clara que, levados pela correnteza até a região de Alter do Chão, inviabilizam a exploração turística das águas cristalinas da cidade.
“Tais sedimentos tendem a causar assoreamento e o aumento da turbidez da água, afetando fortemente a fauna e ictiofauna. Há também impactos relacionados ao uso de produtos químicos tóxicos, como o mercúrio, óleos lubrificantes e combustíveis, que poluem os rios e as APPs, causando danos diversos à saúde humana e animal”, diz o documento.