ELEIÇÕES 🗳 Janja cria incômodos na campanha de Lula por interferências e superexposição
Casada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde maio, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, tem ganhado cada vez mais notoriedade dentro e fora do comitê eleitoral do petista.
O protagonismo de Janja, 55, traz elogios, mas também provoca incômodos entre aliados do presidenciável.
Da cor do material de campanha à comida a ser servida na cozinha da Fundação Perseu Abramo, a socióloga é ouvida sobre cada detalhe da rotina do ex-presidente.
Ela sempre mantém por perto uma garrafa de água para oferecer ao marido durante os atos políticos. Na pré-campanha, chegou a repreender agentes responsáveis pela segurança de Lula. Também já reclamou a assessores do excesso de sessões de fotos a que ele se submete.
Janja tem dito a pessoas próximas que quer “ressignificar” o papel de primeira-dama. Ela tem defendido pautas como combate à fome, soberania alimentar e defesa dos direitos das mulheres.
“Se eu puder contribuir em alguma coisa nessa campanha, nesse governo, que se Deus quiser tudo vai dar certo, vai ser justamente na questão da segurança alimentar voltada para as mulheres”, afirmou em um ato político em abril.
Ela busca participar de todas as reuniões da cúpula da candidatura petista e de encontros reservados de Lula com interlocutores chave. Esteve inclusive naquelas que antecederam a escolha do publicitário da campanha e opina sempre que julga necessário.
Segundo petistas, Janja fala o que pensa, mas não impõe a própria visão. As intervenções geram críticas de uma ala da campanha, que reclama de ela ser “invasiva”.
Em reunião do conselho político, em 8 de agosto, sentada ao lado do marido, ela recomendou cautela para que imagens da marcha de mulheres que ocorreria no sábado (13) não fossem usadas contra a campanha, como ocorreu no “ele não” em 2018. Janja ainda reclamou do tom escuro das peças publicitárias apresentadas.
No dia seguinte à reunião, a primeira-dama Michelle Bolsonaro divulgou um vídeo no qual Lula assistia a uma cerimônia de umbanda. “Isso pode né! Eu falar de Deus não”, publicou a esposa de Jair Bolsonaro (PL).
No mesmo dia, a socióloga foi às redes em defesa do marido. “Eu aprendi que Deus é sinônimo de amor, compaixão e, sobretudo, de paz e de respeito. Não importa qual a religião e qual o credo. A minha vida e a do meu marido sempre foram e sempre serão pautadas por esses princípios”, publicou.
A espontaneidade da reação alimentou, entre integrantes do comitê eleitoral, o receio de que a superexposição de Janja seja usada por Bolsonaro ao longo da disputa. Segundo aliados, a mulher de Lula abordou religião, um tema sensível, sem que a cúpula da campanha fosse avisada da publicação.
Aliados lembram que, na véspera da postagem, a cúpula da campanha havia reiterado que a crise econômica deveria estar no centro da disputa.