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AMÉRICA DO SUL 🌎 Governos vizinhos esperam eleição para definir laços com Brasil

Colômbia e Chile estão sem embaixador no Brasil; relação com a Argentina é pragmática e provoca ciúmes na campanha do PT

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, não escolherá quem será seu embaixador no Brasil enquanto não houver o resultado da eleição, confirmaram fontes de seu governo. O Chile de Gabriel Boric insiste no nome de Sebastián Depolo, amigo do chefe de Estado e líder do jovem partido Revolução Democrática, cujo agrément o Itamaraty colocou na geladeira. Já a Argentina de Alberto Fernández e Cristina Kirchner mantém um relacionamento pragmático com o governo de Jair Bolsonaro, mas torce pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e sonha com um grande e abrangente acordo bilateral, pensado e elaborado pelo embaixador Daniel Scioli.

Já o Paraguai de Mario Abdo Benítez e o Equador de Guillermo Lasso não sentem o mesmo entusiasmo. Governados pela direita — na eleição de 2023 do Paraguai, os favoritos são também de direita —, os dois países temem dificuldades na relação bilateral numa eventual volta do PT, confirmaram fontes de ambos os governos. O relacionamento entre Paraguai e Brasil é especialmente fluido e considerado essencial pelo Palácio de López. Os ministérios da Justiça, por exemplo, têm trabalhado em conjunto para enfrentar desafios comuns, entre eles o combate a grupos criminosos que atuam nos dois países.

Apesar da preferência por Lula, o México governado por Andrés Manuel López Obrador optou pela cautela. A escritora Laura Esquivel, conhecida militante do meio ambiente, defesa dos direitos humanos e das mulheres, tem participado de eventos em Brasília desde que assumiu como embaixadora, mas evita fazer declarações. Seu antecessor, José Ignácio Piña Rojas, de carreira, foi trocado antes de completar seu período e com o único objetivo de colocar no posto um embaixador político, apostando na vitória de Lula.

Em Bogotá, fontes do governo Petro dizem abertamente aguardar a volta do PT ao poder e não escondem o desafio que representaria para a Colômbia ter de se relacionar com o presidente Jair Bolsonaro, caso reeleito.
—Seria muito difícil um vínculo com um país que aderiu ao Consenso de Genebra (aliança de grupos conservadores antiaborto, criada em 2020 por iniciativa do ex-presidente Donald Trump e desde 2021 liderada pelo Brasil) — disse uma das fontes consultadas.

O governo de Boric já desistiu de conseguir que o nome proposto para assumir o comando da embaixada em Brasília seja aceito. Depois de o presidente Bolsonaro ter atacado o chefe de Estado chileno em recente debate presidencial (acusando Boric de queimar metrôs nas manifestações de 2019) ficou claro para o Palácio de la Moneda que com atual governo brasileiro as possibilidades de cooperação são limitadas.
Integração
Os argentinos são os mais eufóricos com a possibilidade de retomar uma aliança com um eventual governo do PT. Num longo documento elaborado por Scioli, ao qual O GLOBO teve acesso, o governo argentino propõe uma integração econômica, política, financeira, de infraestrutura, defesa, tecnologia e conhecimento, mencionando, entre outras iniciativas, uma moeda comum entre os dois países “que aumente e facilite o comércio”.

O documento fala, também, de uma proposta de swap entre Bancos Centrais que ajude a Argentina a aumentar suas reservas, hoje praticamente zeradas; de consolidar o país como principal fornecedor de produtos agroalimentares ao mercado brasileiro; fazer acordos entre bancos públicos dos dois países; ampliar as conexões aéreas; e retornar à diplomacia presidencial, “como principal motor do diálogo bilateral”.

A relação entre Scioli e o governo Bolsonaro — surpreendente boa, dada as divergências públicas entre o presidente brasileiro e seu colega argentino — causa mal-estar no PT. As queixas chegaram à Casa Rosada e levaram o embaixador argentino a dar explicações a Lula e ao ex-chanceler Celso Amorim, principal assessor internacional da campanha do PT. Scioli, confirmaram fontes, esclareceu que precisa se relacionar com o governo brasileiro para avançar na resolução de conflitos, aumentar os investimentos brasileiros na Argentina e, basicamente, contribuir para a recuperação econômica de seu país, permanentemente às voltas com crises que parecem não ter solução. O embaixador trabalha com a hipótese de apresentar sua proposta a quem ganhar as eleições, seja Lula ou Bolsonaro. Mas a Casa Rosada sabe que com o PT tudo fluiria melhor.

Redação GOYAZ

Redação: Telefone (62) 3093-8270

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