AGROPECUÁRIA 🐂 Agrotech: existe agropecuária sustentável no Brasil?
Agrotech: Feijão e arroz, que compõem a mesa de grande parte dos brasileiros, perderam juntos 5 milhões de hectares de plantações para outras culturas;
Hoje, mais de 70% da produção de feijão está nas mãos da agricultura familiar, longe da atenção das agritechs;
Preço dos alimentos aos brasileiros subiu 62%, acima dos 50% de altas somadas do IPCA.
O setor do agronegócio, sobretudo de grande produção de commodities, como soja, milho e cana-de-açúcar, convive há alguns anos entre a valorização do trabalho, que atualmente corresponde a mais da metade de tudo o que é produzido no campo, e as críticas sobre o impacto ambiental da atividade, que nas últimas décadas se expandiu por áreas mais secas do país, como o cerrado, chegando às fronteiras da Amazônia. No ano passado, a floresta perdeu 13.000 km2 de mata nativa, sobretudo em fronteiras de expansão da pecuária, como o Pará e o Mato Grosso. Área maior que dois DF inteiros.
“A devastação da floresta começa com a atividade madeireira, com retirada das árvores mais valiosas; posteriormente aquela área, muitas vezes grilada, é limpa com o chamado correntão, que vai levando toda a vegetação, para transformar em pasto; quando chega a infraestrutura que valoriza aquela terra, ela costuma ser vendida aos agricultores, muitos para o plantio de soja”, explica Virgílio Viana, superintendente da FAS (Fundação Amazonas Sustentável).
Os dados da Conab (Companhia Brasileira de Abastecimento) mostram a diferença da evolução dos grãos nos últimos anos. Feijão e arroz, que compõem a mesa de grande parte dos brasileiros, perderam juntos 5 milhões de hectares de plantações para outras culturas. Hoje mais de 70% da produção de feijão está nas mãos da agricultura familiar, longe da atenção das agritechs.
Para o engenheiro agrônomo formado na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), o foco na produção de soja não contraria esta dinâmica. “Soja é fonte de proteína e de 80% das rações animais; nesta época do ano, quando a pastagem é mais rara, grande parte da carne vem de confinamento que usa ração a base de soja, e o mesmo vale para galinhas, ovos, suínos”, defende.
Desde que o boom das agrotechs começou, há cerca de seis anos, a produção nacional de grãos saltou de 186,7 milhões de toneladas, para 255,5 milhões, uma alta de mais de 36% entre as safras de 2015 e 2021, segundo dados da Conab.
Contrariando expectativas de oferta e demanda, no entanto, a abundância não se refletiu nos preços. No mesmo período, o preço dos alimentos aos brasileiros subiu 62%, acima dos 50% de altas somadas do IPCA.
46% da população brasileira deixa a carne de lado ao menos uma 1x por semana
Alguns movimentos, como o Segunda Sem Carne, colaboram para a redução do consumo de proteína animal. Uma pesquisa do Ipec (2021), a pedido da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), aponta que 46% da população brasileira deixa a carne de lado ao menos uma vez por semana e que um terço da nação busca opções veganas em seus cardápios.
“Se você pensar hoje nas terras agrícolas, 77% delas estão sendo usadas para a pecuária, e só são responsáveis por 18% das calorias. Então, você vê aí uma ineficiência. Se a gente tá pensando que a população daqui a pouco vai chegar em 10 bilhões, a gente tá usando ineficiente. Se a gente tirar os animais dessa equação, realmente a gente tem uma área produtiva”, indica Mônica Buava, diretora executiva da Sociedade Vegetariana Brasileira.
Custos da produção animal
Apesar de grandes empresas não estarem diretamente conectadas a danos ambientais criminosos, a produção agropecuária ainda é uma atividade danosa ao meio ambiente. Dados apontam que não só o setor é responsável por 14,5% da emissão de gases de efeito estufa, mas a utilização de agrotóxicos e antibióticos causam também grandes danos à saúde humana, seja à exposição direta ou indiretamente pelo consumo.
A criação de gado também utiliza cerca de 23% de toda água disponível para consumo no planeta e 30% da energia gerada mundialmente. Todo esse gasto, no entanto, representa apenas 15% das calorias do prato do brasileiro, e 13% do prato do americano.
Como forma de aliviar todos esses impactos à natureza, grandes empresas vem se utilizando cada vez mais de desenvolvimentos tecnológicos em suas linhas de produção, desde o produtor até o consumidor final.