BRASIL 🇧🇷 ‘Lembra o início do HIV’: a estigmatização da varíola dos macacos
O primeiro atendimento médico que Carlos*, de 38 anos, recebeu ao informar que poderia estar infectado com a varíola dos macacosem um hospital particular da Grande São Paulo foi “vago e genérico”, como ele mesmo descreve.
“Comuniquei a suspeita ao enfermeiro, ele colocou luvas e me levou para uma sala de isolamento, e admitiu que tinha desconhecimento da doença e que faltava protocolo dentro do hospital para isso. Me senti como uma cobaia”, relata.
Carlos precisou tirar toda roupa e passar por uma inspeção íntima detalhada e invasiva em busca das pequenas feridas que caracterizam a doença.
“Tive que tirar toda roupa, ficar nu, e os médicos olhando, procurando, mandava virar, procurava em regiões que eu nem enxergava. Nas partes íntimas, na região do ânus. Não sabia que aquele seria o protocolo”, completa.
Na ocasião, no dia 18 de julho, o Brasil apresentava pouco mais de 400 casos confirmados da Monkeypox, a varíola símia ou popularmente chamada de varíola dos macacos.
Três semanas depois e quase 1.000 casos a mais, ainda não há por parte do governo federal uma campanha de conscientização e informação sobre os riscos da varíola dos macacos, quem são os grupos mais vulneráveis à doença no momento ou mesmo como se prevenir.
Somente no dia 1º de agosto — quase 2 meses após o 1º caso registrado no Brasil, no dia 9 de junho — o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica com orientações para profissionais da saúde com recomendações sobre a varíola dos macacos.
Falta de informações sobre a varíola dos macacos
“Eu fui obter mais informações sobre a doença depois que já estava quase 2 semanas em isolamento e muito por minha conta. De início, recebi a orientação que precisaria ficar 21 dias isolado, sem ter contato algum. Muito depois, consultei um outro médico que me informou que poderia realizar certas atividades diárias desde que tomasse as medidas corretas para isso”, conta Carlos.
A falta de informação oficial abre um espaço para a desinformação e ignorância, principalmente em uma sociedade que ainda vive um cenário pandêmico da Covid-19.
“Existe aquela famigerada fala de que ‘não se pode criar pânico’, mas que, na verdade, é um grande pretexto para não se falar as coisas com clareza, com ética e para não se tocar nesse assunto, principalmente em um ano eleitoral”, destaca José David Urbaez Brito, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.
Na avaliação do especialista, falta ao Ministério da Saúde tomar as rédeas da coordenação do combate à varíola dos macacos no Brasil. Tal qual como aconteceu com o novo coronavírus no início de 2020, casos da Monkeypox já se espalhavam pela Europa e alarmavam os governos sobre quais medidas seriam necessárias para enfrentá-la.