BRASIL 🇧🇷 Ministro da Previdência, Carlos Lupi chamou os holofotes e produziu uma crise
Carlos Lupi, presidente do PDT que lançou Ciro Gomes como candidato ao Planalto e se aliou a Lula (PT) no segundo turno, queria um ministério de “ponta” e recebeu uma bucha na distribuição de cargos do novo governo.
Para ser uma pasta de “ponta”, um ministério não precisa só de orçamento, embora este seja quase sempre o critério principal da cobiça.
Precisa ter visibilidade e prestígio.
Há pastas que tem as duas coisas sem contar com um caminhão de recursos.
Há pastas que têm recursos, prestígio e visibilidade.
Há as que possuem só recursos.
E tem o Ministério da Previdência.
Se o governo fosse uma churrascaria, Lupi passou longe da picanha no rodízio. Ficou com o javali, aquela peça que todo mundo conhece e ninguém quer saber –como bem mostrou um antigo esquete do coletivo Porta dos Fundos.
Enquanto colegas de ministério brilhavam em suas posses como líderes de questões com mais apelo e engajamento, como meio ambiente, direitos humanos, cultura, política e economia, Lupi, em sua estreia, estava fadado a falar sozinho para uma audiência tão interessada em saber sobre futuro e aposentadoria, dois assuntos que quase sempre deixamos para depois, quanto em receber uma ligação do vendedor do plano funerário.
O pior é que poucos temas são mais importantes para o país hoje, que vê a população economicamente ativa envelhecer e a taxa de natalidade, diminuir.
Como, então, conseguir atenção?
“Já sei”, deve ter pensado o novo ministro.
Foi então que ele foi a público chamar a reforma da Previdência, aprovada no muque durante a última gestão, de antireforma e deixar a entender que ela poderia ser revista.
Lupi prometeu mostrar que a Previdência não era deficitária, deixando de cabelo em pé os entendidos em contas públicas, que passaram a desconfiar que o pedetista não entendia do assunto para o qual deverá cuidar daqui em diante. Houve quem o chamasse de terraplanista previdenciário.
Esses especialistas calculam que o déficit da Previdência seja de R$ 247 bilhões, e chega a R$ 361 bilhões levando-se em conta pagamento de pensões e de militares inativos.
Como o Tesouro é superavitário, o que Lupi propõe, na definição de Fabio Giambiagi, pesquisador da FGV, é tirar o dinheiro do bolso esquerdo e colocá-lo no direito –uma solução simples para um problema complexo.
Com a declaração, Lupi conseguiu jogar para seu quintal os holofotes que ele não tinha, nem deveria ter, em dias de atenções disputadas com Marina Silva, Silvio de Almeida, Margareth Menezes e grande elenco.
Conseguiu apenas a atenção de investidores, que se movimentaram e fizeram a Bolsa cair e o dólar, subir.
Isso enquanto, no ministério ao lado, Luiz Marinho assumia o gabinete do Trabalho em meio a expectativas (leia-se receio) de que a gestão Lula promova mudanças drásticas na reforma trabalhista.
Lupi foi desautorizado por Rui Costa, novo chefe da Casa Civil, e precisou recuar. Disse que a discussão sobre possível revisão, se houver, é apenas pontual.
Ele e o mercado sabem, ou deveriam saber, que Lula, mesmo que queira, não tem capital político nem base no Congresso para emplacar uma mudança dessa envergadura na Previdência. Mas a confusão estava armada.
Para evitar novos ruídos, Lula promete convocar uma reunião de alinhamento, logo na primeira semana de trabalho, para combinar o básico: ninguém mais anuncia nada sem antes combinar com o chefe.
Parece coisa simples, mas não é.
Lula fatiou seu governo em 37 ministérios e não vai ser fácil ouvir um a um (ou uma a uma) antes e toda vez que alguém precisar emitir qualquer palavra ou opinião.
Todos ali querem um naco do holofote por motivos diversos.
Os de Lupi, um político escalado num cargo técnico e altamente burocratizado (o javali do churrasco), concentram-se nas próximas eleições. Eis a primeira conta que não fecha no Ministério da Previdência.
2:573:13
Futuro ministro da Educação, Camilo Santana já tem difícil missão pela frente | Matheus Pichonelli
Carlos Lupi
Político brasileiro