BRASIL 🇧🇷 O que se sabe sobre desaparecimento de jornalista britânico e indigenista brasileiro no Amazonas
O jornalista britânico Dom Phillips e o servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio) Bruno Araújo Pereira desapareceram quando se deslocavam de barco pelo rio Itaquaí após uma visita à Terra Indígena do Vale do Javari (Amazonas), território que tem sofrido com invasões de caçadores, pescadores e madeireiros.
O sumiço da dupla foi divulgado nesta segunda-feira (06/06) em uma nota assinada pela principal associação indígena do Vale do Javari (Unijava) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).
A Polícia Federal, a Funai, o Ministério Público Federal e a Marinha estão envolvidos nas buscas.
Phillips e Pereira desapareceram após fazerem uma pausa numa comunidade ribeirinha, quando estavam fora da terra indígena e voltavam para a cidade de Atalaia do Norte, a principal da região, no oeste do Amazonas.
A Unijava e o OPI dizem que a equipe recebeu “ameaças em campo” durante a visita.
Em nota, os órgãos dizem que Pereira e Phillips viajaram em 3 de junho até um posto de vigilância indígena próximo a uma localidade chamada Lago do Jaburu, “para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas”.
No dia 5, segundo a nota, os dois deveriam voltar para Atalaia do Norte, mas antes fizeram uma parada previamente agendada na comunidade ribeirinha São Rafael para visitar um líder comunitário conhecido como “Churrasco”.
O objetivo da parada era ” consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território bastante afetado pelas intensas invasões”.
Segundo a nota, a dupla chegou à comunidade São Rafael por volta das 6h. Como não encontraram o líder, conversaram com sua esposa e partiram rumo a Atalaia do Norte.
A viagem normalmente dura cerca de duas horas. “Assim, deveriam ter chegado por volta de 8h/9h da manhã na cidade, o que não ocorreu”, dizem a Unijava e o OPI.
O jornalista britânico Dom Phillips
O jornalista britânico Dom Phillips mora em Salvador e faz reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos
Os órgãos dizem então que, às 14h, mandaram em busca da dupla uma equipe “formada por indígenas extremamente conhecedores da região”.
A equipe teria percorrido inclusive os “furos” do rio Itaquaí, “mas nenhum vestígio foi encontrado”.
“A última informação de avistamento deles é da comunidade São Gabriel – que fica abaixo da São Rafael – com relatos de que avistaram o barco passando em direção a Atalaia do Norte”, diz a nota.
Às 16h, dizem os órgãos, “outra equipe de busca saiu de Tabatinga, em uma embarcação maior, retornando ao mesmo local, mas novamente nenhum vestígio foi localizado”.
A nota diz que a ameaça recebida pela equipe na última semana “não foi a primeira”.
Segundo as entidades, várias outras ameaças “já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Unijava, além de outros relatos já oficializados para a Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International”.
O cunhado de Phillips publicou uma mensagem no Twitter em que a família “implora às autoridades brasileiras que enviem a guarda nacional, a polícia federal e todos os poderes à disposição” para encontrar o jornalista.
“Ele ama o Brasil e dedicou sua carreira à cobertura sobre a floresta Amazônica. Entendemos que o tempo é um fato crucial, então encontrem nosso querido Dom o mais rápido possível”, escreveu Paul Sherwood, cunhado de Phillips.
Buscas
Em nota à BBC a Funai afirma que “acompanha o caso, está em contato com as forças de segurança que atuam na região e colabora com as buscas”.
“Cumpre esclarecer que, embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares”, acrescenta a entidade.
A Polícia Federal disse em comunicado que está trabalhando no caso. Informou ainda que duas testemunhas, cujos nomes não foram divulgados, foram ouvidas nesta segunda.
O Ministério Público Federal diz ter acionado a Polícia Federal, a Força Nacional, a Polícia Civil, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha do Brasil. “Esta última já confirmou que conduzirá as atividades de busca na região, por meio do Comando de Operações Navais”, diz o órgão em nota.
“O MPF seguirá intermediando as ações de buscas e mobilizando as forças para assegurar a atuação integrada e articulada das autoridades, visando solucionar o caso o mais rápido possível.”
O Comando Militar na Amazônia afirmou que iniciou uma operação de busca na região do município de Atalaia do Norte com uma equipe de combatentes de selva.
Segundo o jornal O Globo, o governo federal está montando uma força-tarefa com agentes da Polícia Federal, oficiais da Marinha, do Exército, bombeiros, servidores da Funai, da Defesa Civil e da Força Nacional de Segurança em Tabatinga, no Amazonas. O governo federal no entanto ainda não confirmou oficialmente a informação.
Mas o governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima, disse que determinou o envio de reforço policial especializado para a região de Atalaia do Norte para ajudar nas buscas.
O jornal The Guardian disse que “está muito preocupado” e buscando informações sobre o caso. “Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e com autoridades locais e nacionais para tentar esclarecer os fatos assim que possível.”
Bruno Araújo Pereira junto com indígenas
O indigenista Bruno Araújo Pereira (ao centro), servidor da Funai que sumiu enquanto se deslocava de barco
Servidor experiente
Segundo a nota conjunta do OPI e da Unijava, “Bruno Pereira é pessoa experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”. As entidades afirmam que a dupla viajava com uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina, “o suficiente para a viagem”.
Pereira é um dos servidores da Funai com mais conhecimento sobre indígenas isolados e de recente contato.
Segundo o jornal The Guardian, Phillips “está trabalhando num livro sobre o meio ambiente com apoio da Alicia Patterson Foundation”.
O jornal acrescenta que Phillips mora em Salvador e faz reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos, colaborando com veículos como o ; próprio The Guardian, o Washington Post, o New York Times e o Financial Times.
Jonathan Watts, editor de meio ambiente do Guardian, escreveu no Twitter que Dom Phillips, é um “jornalista excelente” e “grande amigo”. Ele cobrou autoridades brasileiras a agir para solucionar o caso.