CEJANE PUPULIN | Estudo revoluciona tratamento da Histoplasmose Disseminada em pacientes com HIV/AIDS
Profissionais do HDT são coautores em artigo já publicado
A histoplasmose disseminada é uma das infecções oportunistas mais frequentes causadas por fungos patogênicos entre as pessoas que vivem com HIV/AIDS nas Américas. Sem tratamento, a doença tem uma taxa de mortalidade superior à 90%.
No entanto, um estudo revolucionário publicado na Clinical Infectious Diseases, de IDSA, de Oxford, revista de renome internacional, traz esperança ao mostrar que um tratamento simplificado e mais acessível pode estar à disposição dos pacientes.
O estudo, que tem como coautores profissionais do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), unidade do Governo de Goiás gerida pelo Instituto Sócrates Guanaes (ISG), em Goiânia, revela resultados promissores que podem reduzir a mortalidade de muitas pessoas afetadas pela doença.
O artigo é liderado pelo médico infectologista Alessandro Pasqualotto e possui como coautores os médicos infectologistas do Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), Dra. Cássia Godoy e Dr. Taiguara Guimarães e a farmacêutica, Dra. Renata Soares, além da participação de outros profissionais de diversos centros de pesquisa no Brasil.
Metodologia
A pesquisa dividiu os participantes em três grupos. O GRUPO 1 recebeu uma única dose alta de anfotericina B lipossomal (L-AmB). Já o GRUPO 2 uma dose inicial alta, seguida de uma dose menor, e o GRUPO 3 foi um grupo de controle, recebendo o tratamento padrão por duas semanas. O objetivo foi avaliar a resposta clínica dos pacientes após 14 dias de tratamento.
Os resultados foram encorajadores e trazem esperança para milhares de pessoas. O GRUPO 1 apresentou uma taxa de resposta clínica de 84% no 14º dia, semelhante ao do GRUPO 3, que foi de 74%. Além disso, as taxas de sobrevida foram de 89% para o grupo da dose única, 78% para o grupo com duas doses e 92,1% para o grupo controle. Isso indica que a dose única alta de L-AmB pode ser tão eficaz quanto o tratamento padrão, mas com uma abordagem mais simples e de menor custo.
Resposta clínica | Taxa de sobrevida | |
GRUPO 1 (dose única) | 84% | 89% |
GRUPO 2 (duas doses) | 69% | 78% |
GRUPO 3 (tratamento padrão) | 74% | 92,1% |
*Resultados com 14 dias de tratamento
“A oferta de anfotericina B lipossomal no Brasil ainda é um fator limitante em função do alto custo. Tradicionalmente, a anfotericina B desoxicolato ainda é largamente prescrita. A terapia de indução com alta dose da formulação lipossomal terá impacto na diminuição do tempo de hospitalização e redução da mortalidade. Tem sido uma colaboração singular a participação em um estudo desta magnitude, com melhoria no diagnóstico e enfrentamento da histoplasmose em pacientes imunocomprometidos”, pontua a coautora e farmacêutica, Dra. Renata Soares, comenta sobre a significativa redução de custo para o tratamento.
A médica infectologista, Dra. Cássia Godoy, destaca a importância desses resultados para o HDT. “Nosso hospital, ao longo de 30 anos, tem sido referência no Brasil no que diz respeito ao diagnóstico de histoplasmose disseminada. Participar de uma pesquisa como essa nos enche de orgulho, pois pode ser a descoberta de um tratamento mais seguro e potencialmente eficaz quanto o tratamento tradicional”, destaca.
O diretor executivo do HDT, Antônio Jorge, ressaltou a importância do incentivo à pesquisa para o hospital e para o Instituto Sócrates Guanaes (ISG), organização social que gere a unidade. “O ISG e o HDT têm como pilar fundamental o incentivo à pesquisa. Acreditamos que a investigação científica é essencial para impulsionar avanços significativos na saúde e no tratamento de nossos pacientes”, finaliza.
A doença
Os indivíduos geralmente adquirem a histoplasmose, infecção pela inalação (entrada) de partículas infectantes do fungo decorrente do manuseio do solo, frutas secas e cereais e nas árvores.
As manifestações clínicas da histoplasmose dependem do estado imunológico do indivíduo, da virulência da cepa e do tamanho do inóculo. A sintomatologia inclui febre, calafrios, tosse seca, fraqueza, perda de peso, dor de cabeça e dores musculares. O indivíduo doente ainda pode apresentar dificuldade ao respirar, de intensidade variável e, ocasionalmente, dor no peito, dificuldade e dor ao deglutir.
O estudo completo está disponível em: https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciad313/7180255