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Economia mostra sinais de perda de fôlego com menos gastos públicos, diz Inter

Rafaela Vitória, economista-chefe da instituição, aponta para descompasso entre estresse do mercado e dados

Rafaela Vitória, economista-chefe da instituição, aponta para descompasso entre estresse do mercado e dados
Rafaela Vitória, economista-chefe da instituição, diz que a perda de fôlego é sinal de menor injeção de gastos públicos nas atividades.

Apesar de os grandes setores da economia terem crescido nos 12 meses até agosto, e a indústria ainda apresentar expansão de 0,1% na comparação mensal, um relatório divulgado pelo banco digital na última sexta-feira (11) destaca as quedas observadas no varejo e nos serviços, respectivamente de 0,3% e 0,4% no mês.

Desse modo, a avaliação do Inter é que o índice do Banco Central (BC) que prevê o crescimento da economia, o IBC-Br, deve registrar recuo de 0,14% para agosto. O dado será divulgado na segunda-feira (14).

“Isso vem como reflexo da queda no serviço e varejo, que não deve ser compensada por uma indústria em alta”, diz Vitória. Porém, a economista pontua que a desaceleração não é um sinal de alarde. Ela reforça que o recuo já era esperado e que o dado por si só não dita uma tendência recessiva, mas de estabilização.

Nos dois primeiros trimestres do ano, a economia brasileira cresceu 1% e 1,4%, respectivamente. Se a tendência se mantivesse, a economista aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) poderia acabar em expansão de 5%, o que está amplamente distante das expectativas.

A aposta do banco digital é que o Brasil encerre o ano com alta de 2,9% do PIB.

“A gente viu um crescimento muito forte nos últimos trimestres, então é natural que tenha uma acomodação no seguinte. Quando olhamos para o cenário como um todo, aquele crescimento forte não tende a se repetir”, pontua a economista-chefe do Inter.

Por que a economia está se acomodando?

Vitória aponta que grande parte do crescimento visto nos primeiros seis meses do ano veio por conta do chamado impulso fiscal, nome técnico para elevação de gastos do governo. E de fato, até maio deste ano, a dívida pública do setor público vinha crescendo.

Mas agora, a economista aponta é que a tendência dos gastos é seguirem diminuindo. O motivo: o governo precisa cumprir a meta fiscal de manter o déficit zero, com tolerância de dívida equivalente a 0,25% do valor do PIB.

“Se de fato o crescimento do 1º semestre tiver sido muito embasado no impulso, não deve se repetir, ainda mais se o governo buscar cumprir a meta. O impulso agora é menor, então tende a resultar num crescimento um pouco menor”, explica Vitória.

Ainda assim, o mercado segue sendo pautado por temores fiscais, que pesaram sobre o Ibovespa nesta semana. Mas para Vitória, essa avaliação sinaliza um descompasso entre a visão do mercado financeiro e a realidade econômica do país.

Além da tendência de queda dos gastos públicos, a economista-chefe aponta para os sinais levantados pelo Inter de uma economia em desaceleração e também para uma inflação de serviços mais controlada no país.
“O mercado não tem dado muita atenção para esses dados. Enquanto o setor de serviços mostrou uma queda importante, o mercado de juros ainda aponta para uma alta das taxas. Há mais atenção ao fiscal, de deterioração, do que aos dados da economia corrente”, pontua Vitória.

“O mercado de juros ainda tem um estresse maior, pressionando o Banco Central a subir os juros, o que não é condizente com o cenário que vem se apresentando”, pondera.

Olho no longo prazo

Um dos riscos inflacionários que o BC tem apontado no ambiente econômico é o hiato apertado para o PIB. Traduzindo do economês, isso significa que a demanda tem crescido mais do que a oferta no país, e ao se consumir mais do que é capaz de produzir, os preços tendem a subir.

“Isso preocupa mais no médio e longo prazo. Com o crescimento menor da oferta, produção do bem de capital com uma queda, e se no longo prazo tiver muita transferência de renda ao consumo, sem ter o mesmo investimento, vai ter inflação. Mas no curto prazo, o IPCA ainda não mostrou isso”, afirma Vitória.

O problema é que, com a expectativa do mercado e o tal hiato pressionando o BC, os juros tendem a seguir elevados por mais tempo.

A aposta do mercado, segundo levantamento da própria autarquia, é que a taxa Selic, o juro básico do país, hoje em 10,75%, siga em alta até o começo de 2025, quando deve se estabilizar em 12% ao ano. A primeira queda só deve ocorrer na última metade do ano.

“O cenário de endividamento é alto no Brasil, e com os juros elevados, o endividamento deve seguir maior. Outro problema é que o juro alto por muito tempo inibe investimento”, explica a economista-chefe do Inter.

Desse modo, a tendência é que a economia desacelere ainda mais. A preocupação levantada por Vitória é que a reação do governo a uma queda forte no futuro pode ser de voltar a elevar os gastos para movimentar a economia. Assim, ela defende que é importante haver um alinhamento entre as políticas monetária e fiscal.

“Se o Banco Central faz o aperto agora, e o governo continua expandindo gasto, tem um custo de dívida que continua crescente sem controle adequado da inflação”, conclui Vitória.

Redação GOYAZ

Redação: Telefone (62) 3093-8270

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