Ex-assessor de Bolsonaro pede a Alexandre de Moraes novo depoimento para nova contribuição com investigação sobre golpe
Coronel da reserva, Marcelo Câmara é suspeito de atuar em estrutura paralela de inteligência para Bolsonaro
A defesa do ex-assessor especial de Jair Bolsonaro Marcelo Câmara pediu ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que marque uma nova data para ele ser ouvido pela Polícia Federal (PF). Ele é investigado por participar da suposta tentativa de golpe arquitetada durante o governo Bolsonaro para que o então presidente se mantivesse no poder.
O advogado Eduardo Kuntz, que defende Câmara, afirmou que seu cliente foi depor sem sua presença e que por isso acabou ficando em silêncio. De acordo com a defesa, isso aconteceu porque Kuntz também é responsável pela defesa de Tércio Arnaud Tomaz, outro ex-assessor de Bolsonaro, que prestou depoimento no mesmo dia e horário.
Diante disso, na manifestação encaminhada nesta segunda ao STF, ele pediu que seja marcada com urgência uma nova data para o depoimento, ou mesmo que ele vá até o Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília, onde Câmara está detido, para registrar os esclarecimentos de seu cliente.
Câmara é coronel da reserva do Exército, com formação nas chamadas Forças Especiais, grupo militar de elite, e foi assessor especial da Presidência no governo de Jair Bolsonaro. Segundo a PF, ele seria um dos responsáveis por um núcleo de inteligência não-oficial de Bolsonaro. Próximo do ex-presidente, ele foi nomeado como um dos auxiliares a que Bolsonaro tem direito após deixar o cargo e chegou a viajar com ele para os EUA após o segundo turno, em 2022.
Na investigação da PF, ele aparece em trocas de mensagens com o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, falando de forma cifrada sobre os itinerários de viagem do ministro Alexandre de Moraes no fim de 2022, episódio que foi considerado para determinar a prisão de Câmara. “Considerando que a minuta do decreto que declarava o Golpe de Estado previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, o acompanhamento e monitoramento da autoridade – inclusive durante o Natal (24/12/2022) – demonstra que o grupo criminoso tinha intenções reais de consumar a subversão do regime democrático, procedendo a eventual captura e detenção do Chefe do Poder Judiciário Eleitoral”, diz a PF na representação que pediu a prisão de Câmara.
“Outro fator relevante é que Marcelo Câmara já tinha pelo menos desde o dia 15.12.2022 o itinerário exato de deslocamento pelos próximos 15 dias do ministro Alexandre de Moraes, o que demonstra o acesso privilegiado de informações pelo grupo. As circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle”, seguiu a PF no pedido.
Tércio Arnaud Tomaz, outro ex-assessor de Bolsonaro na Presidência defendido por Kuntz, é um dos integrantes do chamado “gabinete do ódio” que teria se instalado na Presidência da República durante o governo de Bolsonaro para atacar adversários do presidente e supostamente difundir fake news.