Genial/Quast revela os desafios de Caiado para se tornar presidente da República em 2026
Da Redação
Christiano Pereira
A pesquisa Genial/Quast divulgada na última segunda-feira (13) apresentou dados que suscitam luz na pretensão do governador Ronaldo Caiado (União) em se tornar candidato e vencer a corrida ao Planalto em 2026.
Com Jair Bolsonaro (PL) inelegível até 2030, a pesquisa procurou decifrar qual personagem político poderia herdar os votos do o ex-presidente numa eventual disputa contra Lula (PT).
Segundo a pesquisa, o nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) ocupa o primeiro lugar na preferência dos eleitores de Bolsonaro com 41%. O número expressa uma parcela considerável do espólio do ex-presidente. Na sequência, Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 33%, Ratinho Júnior (PSD) com 7%, e, em empate técnico, aparece Ronaldo Caiado (União) com 5% e Romeu Zema (Novo) com 5%.
FILTROS A SEREM CONSIDERADOS
Um ponto crucial é se haverá um bloco unido da direita com um único nome na disputa, ou quem será o nome ungido por Bolsonaro ou mesmo obterá o apoio do PL em 2026?
Michele Bolsonaro
Em junho deste ano, ao ser questionado sobre uma possível candidatura de sua esposa ao Planalto, Bolsonaro frisou que “Michelle não fala em política. Ela convida as mulheres para participar das reuniões municipais e daqui a dois anos ela, possivelmente, dispute uma vaga para o Senado pelo Distrito Federal”.
Outra declaração do ex-presidente, esta em 30 de junho do ano passado, soou como um ponto final: “Não está pronta e que não tem experiência para aguentar o dia a dia de uma política bastante violenta”.
Caso estas declarações permaneçam constantes, o nome de Michele pode ser desconsiderado pela direita na disputa pela sucessão de Lula.
Tarcísio de Freitas
No embalo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também fez coro ao clamor pelo seu nome ao Planalto, afirmando que não será candidato à presidência. Exercendo o primeiro mandato a frente do estado mais rico do país, uma falha na tentativa de se eleger presidente da República pode eliminá-lo da política. Sem um recuo do governador, surge Ratinho Júnior.
Ratinho Júnior
A situação se inverte quando o nome é de Ratinho Júnior, que está no segundo mandato à frente do Executivo do Paraná.
O governador paranaense vem se movimentando para obter o apoio do PL de Bolsonaro à presidência num drible contra o aval direto do ex-presidente. Mais longe do bolsonarismo, mas a favor de privatizações, por exemplo, Ratinho busca um caminho à direita mais distante do radicalismo conexo à Bolsonaro.
Governador do Paraná não é tão associado à Bolsonaro quanto Tarcísio e Zema, nem esteve no ato do ex-presidente, como Caiado, mas sua colocação em terceiro lugar na preferência dos bolsonaristas ao Planalto o credita a seguir cogitando um voo mais alto.
Os números de aprovação (79%) divulgados pela Quaest, em abril deste ano, mostram o Paraná de Ratinho como uma boa plataforma de campanha para um futuro candidato à Presidência. Resta decifrar se será presumível amparar uma candidatura à direita tão longe de Bolsonaro.
Ronaldo Caiado e Romeu Zema
Caiado com 86% é o mais bem avaliado entre governadores bolsonaristas cotados para Presidência. Aprovação do governador de Goiás no próprio Estado supera com folga a obtida por Tarcísio de Freitas (62%), Ratinho Júnior (79%) e Romeu Zema (62%).
Caiado é o único governador que já manifestou publicamente interesse em disputar a presidência da República em 2026. Já o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, finaliza o segundo mandato com bom nível de aprovação, mas não demonstra muita vontade de se mudar para Brasília.
Fatos pró-Caiado
Segundo a Quaest, 12% do eleitorado bolsonarista votaria em Caiado para presidência. O número é expressivo se levado em conta que, segundo a mesma pesquisa, 60% ainda o desconhecem. O que favorece Caiado é que, na política, quanto mais popularidade, maior tende a ser o percentual de rejeição.
A gestão bem avaliada de Caiado tem indicadores que caem como luva no atual cenário brasileiro. Segundo estudo divulgado em dezembro do ano passado, o Brasil é o país que lidera ranking de homicídios no mundo. Do total de 458 mil homicídios em todo mundo registrados no ano referência de 2021, 10,4% deles ocorreram no Brasil. Em contrapartida, Goiás registra queda de até 89,8% nos índices de criminalidade.
No cenário econômico, Goiás é o estado que registra a maior alta de crescimento do país. O Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás encerrou o ano de 2023 totalizando R$ 336,7 bilhões, o maior valor da história. A atividade econômica goiana cresceu 6%, superando em mais que o dobro a média nacional, que foi de 2,5% na variação acumulada dos últimos 12 meses, até janeiro de 2024.
Desafios de Caiado
Num cenário ainda incerto na definição do nome que obterá o espólio político de Bolsonaro em 2026, fato fundamental para uma eventual vitória contra a esquerda de Lula, crescem especulações se haverá, de fato, um único nome representando o bloco da direita com o ex-presidente no palanque.
Dirigentes do União Brasil, partido que tem a terceira maior bancada da Câmara, voltaram a defender ao longo do final de semana passado, o desembarque do governo Lula. O partido tem três ministérios no governo Lula: Turismo, com Celso Sabino; Comunicações, com Juscelino Filho e Integração Regional, com Waldez Góes.
Nas eleições de 2024, o União Brasil será oposição ao governo Lula na disputa municipal em nove das dez principais capitais brasileiras.
Em relação a se tornar mais conhecido nacionalmente, Caiado pode escorar a sombra dos números de sua gestão como uma carta na mão para o grande eleitorado brasileiro.
Para alguns integrantes da sigla, a pré-candidatura ao Planalto de Caiado só poderia ser ser comprometida caso o partido esteja disposto a manter apoio ao governo Lula.
Na última segunda-feira (13), o vice-presidente do União Brasil, ACM Neto, criticou publicamente o governo Lula. “É um governo que cheira a mofo em relação à prática política. E também cheira a mofo em relação às ações de governo, aos projetos para o país”, disse o ex-prefeito de Salvador.
A declaração, segundo interpretam a alta cúpula da sigla, foi vista como sinal claro a outros integrantes do partido que a sigla já está de se preparando para um futuro desembarque.
Caso a tendência ocorra, o partido e Caiado terão que consolidar um nome que consiga unir um bloco oposicionista ao governo Lula. O 1º ano do governo Lula terminou com uma base de apoio mutável na Câmara. Lula só tem sua base fiel formada pela federação PT, PC do B e PV, com 81 deputados, e a federação Psol-Rede, com 14 deputados. Demais siglas votam as pautas do governo de acordo com critérios independentes.
Um empasse notório para Caiado reside na fala do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que afirmar que o PSD, também com três ministérios, deve se separar de Lula e ter candidato em 2026 – no caso, Ratinho Júnior. A fragmentação da direita, observada também na eleição para prefeitura de Goiânia, dilacera o eleitorado que tende a dissolver votos – ao invés de uni-los.