CapaGoiás

HUGO realiza neurocirurgias inéditas

Iniciativa no hospital exigiu uma articulação estratégica detalhada entre as equipes de centro cirúrgico, imagem e neurocirurgia

HUGO realiza neurocirurgias inéditas: o Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), unidade do Governo de Goiás, acaba de alcançar um marco histórico: a realização de dois procedimentos neurocirúrgicos inéditos e de altíssima complexidade. Essa iniciativa no hospital exigiu uma articulação estratégica detalhada entre as equipes de centro cirúrgico, imagem e neurocirurgia, consolidando o Hugo como referência em tratamentos neurológicos avançados.

HUGO realiza neurocirurgias inéditas

O primeiro procedimento foi a biópsia estereotáxica, uma técnica de alta precisão que utiliza um arco fixado na cabeça do paciente e tomografia para calcular as coordenadas milimétricas exatas da área a ser biopsiada.

Essencial para diagnósticos complexos de doenças neurológicas e oncológicas (quando exames de imagem são inconclusivos), a biópsia estereotáxica permite acesso a áreas profundas do cérebro com manipulação mínima.

Já o segundo avanço foi a revascularização cerebral indireta, utilizada no tratamento da rara doença de Moya Moya, caracterizada pelo estreitamento progressivo dos vasos cerebrais.

A cirurgia, com duração de cerca de seis horas, altera o fluxo sanguíneo cerebral e induz a formação de novos vasos. A técnica consiste em conectar vasos sanguíneos do couro cabeludo à superfície cerebral, visando melhorar a circulação, prevenir Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) e proporcionar mais qualidade de vida aos pacientes.

O neurocirurgião Normando Guedes, líder das duas intervenções, celebrou a precisão e a capacidade técnica da equipe.

“Ambos os procedimentos são marcos na história do Hugo, viabilizados pela participação ativa dos neurocirurgiões Rafael Monteiro, Helionai Alencar e Tiago Fernandes. Atuações como estas reforçam a unidade como centro de referência em neurocirurgia e ampliam a oferta de tratamento especializado na rede pública”, afirmou Guedes.

A diretora médica Fabiana Rolla explicou que o Hugo tem investido estrategicamente em setores como emergência, radiologia, UTI e centro cirúrgico para viabilizar esses avanços.

“O Hugo já é um dos principais centros de urgências neurológicas e neurocirúrgicas do Estado, e nosso objetivo é continuar evoluindo, principalmente através da capacitação contínua da equipe assistencial”, concluiu.

Biópsia Estereotáxica

A biópsia estereotáxica é um procedimento minimamente invasivo e de alta precisão utilizado para coletar pequenas amostras de tecido cerebral.

É especialmente útil para diagnosticar lesões localizadas em áreas profundas ou de difícil acesso do cérebro, onde uma cirurgia aberta tradicional poderia ser muito arriscada ou desnecessariamente invasiva.

Como funciona:

  1. Fixação do Arco Estereotáxico: O primeiro passo envolve a fixação de um “arco estereotáxico” (uma espécie de estrutura metálica) na cabeça do paciente. Esse arco serve como um sistema de referência tridimensional.
  2. Exames de Imagem: Com o arco fixado, o paciente é submetido a exames de imagem de alta resolução, como Tomografia Computadorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM). Essas imagens capturam a localização exata da lesão em relação ao arco.
  3. Planejamento Computadorizado: As imagens são transferidas para um software especializado, onde o neurocirurgião, com base nas coordenadas fornecidas pelo arco, consegue planejar a rota mais segura e precisa para alcançar a lesão. Esse planejamento considera evitar vasos sanguíneos importantes e áreas cerebrais vitais.
  4. Acesso Mínimo e Coleta da Amostra: Uma pequena incisão é feita no couro cabeludo, e um pequeno orifício é feito no crânio. Uma agulha fina e oca, guiada pelas coordenadas calculadas, é inserida através desse orifício até o ponto exato da lesão no cérebro.
  5. Análise da Amostra: Pequenas amostras de tecido são então coletadas pela agulha. Esse material é enviado imediatamente para análise patológica, onde um patologista examinará as células ao microscópio para determinar o diagnóstico (por exemplo, se é um tumor, uma infecção, inflamação, etc.).
  6. Remoção do Arco e Fechamento: Após a coleta das amostras, a agulha e o arco são removidos, e a pequena incisão no couro cabeludo é fechada.

Para que serve:

  • Diagnóstico de tumores cerebrais (benignos ou malignos).
  • Identificação de lesões inflamatórias, infecciosas ou desmielinizantes.
  • Auxílio no planejamento de tratamentos como radiocirurgia.

Revascularização Cerebral Indireta

A revascularização cerebral indireta é um tipo de cirurgia realizada para melhorar o suprimento de sangue em áreas do cérebro que estão recebendo pouca oxigenação (isquemia), geralmente devido a doenças que causam o estreitamento ou oclusão de artérias cerebrais, como a Doença de Moyamoya. Diferentemente da revascularização direta (que conecta diretamente dois vasos sanguíneos), a indireta estimula o crescimento de novos vasos sanguíneos.

Como funciona (Exemplo: Encefalo-Duro-Arterio-Sinangiose – EDAS):

  1. Acesso Cirúrgico: O neurocirurgião realiza uma incisão no couro cabeludo e uma abertura no crânio (craniotomia) sobre a área do cérebro que necessita de mais sangue.
  2. Identificação de Vaso do Couro Cabeludo: Um vaso sanguíneo saudável do couro cabeludo, geralmente a artéria temporal superficial (ATS), é isolado, mas mantido conectado à sua origem para que continue a receber sangue.
  3. Posicionamento sobre o Cérebro: A porção isolada da ATS, juntamente com a dura-máter (a membrana resistente que envolve o cérebro) ou outros tecidos vasculares do couro cabeludo, é delicadamente posicionada sobre a superfície do cérebro. Em alguns casos, pode ser feita uma leve abrasão da superfície cerebral para estimular o crescimento vascular.
  4. Estímulo à Neoangiogênese: O objetivo principal não é conectar a ATS diretamente a um vaso cerebral existente (como seria em um bypass direto), mas sim permitir que a proximidade desse tecido ricamente vascularizado (a ATS e a dura-máter) estimule o cérebro a formar seus próprios novos vasos sanguíneos (um processo chamado neoangiogênese). É como “plantar” uma semente de vascularização.
  5. Fechamento: Após o posicionamento, a abertura no crânio é fechada. Com o tempo, os novos vasos sanguíneos do cérebro crescerão em direção à fonte de sangue posicionada, melhorando gradualmente o suprimento sanguíneo para a área isquêmica.

Para que serve:

  • Principalmente para o tratamento da Doença de Moyamoya, que causa oclusão progressiva das artérias cerebrais internas e pode levar a AVCs isquêmicos.
  • Em alguns casos de isquemia cerebral crônica onde outras opções não são viáveis.

Ambos os procedimentos exigem alta especialização do neurocirurgião e uma equipe multidisciplinar bem treinada, além de equipamentos de imagem e centro cirúrgico de ponta.

Mais notícias de Goiás

Redação GOYAZ

Redação Ligação Direta: 36024225 Redação Plantão Whatsapp: ( 62) 983035557
Botão Voltar ao topo