Lula sobe tom sobre Biden e diz que seu discurso “de ir para cima do Putin” não ajuda
No encerramento do G7, em Hiroshima, no Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom em relação a Joe Biden, dizendo que o discurso do presidente americano não fala em paz, mas em “ir para cima do [presidente da Rússia Vladimir] Putin” e que isso, segundo ele, não ajuda na resolução do conflito no Leste Europeu.
O presidente brasileiro disse ainda que países do chamado Sul Global, os emergentes, querem encontrar a paz que o Norte, se referindo aos países ricos, não está conseguindo alcançar.
Lula questionou se os jornalistas tinham acompanhado o discurso de Biden em dois momentos. No primeiro, afirmou que o presidente americano exige da Rússia abandonar a guerra.
“Ontem, vocês viram o discurso do presidente Biden? Sabe, que não fala em paz. Ele fala que a Rússia tem que abandonar, sabe? Eu não sei se ela vai abandonar. Eu acho que é preciso, então, ter gente que possa construir uma saída para que se encontre a paz”, afirmou Lula.
Na segunda vez em que repetiu a pergunta sobre a fala do presidente americano foi mais enfático e disse que a exigência de Biden, de rendição russa, não ajuda a encerrar o conflito.
“Ontem vocês viram o discurso do Biden? De que tem que ir para cima do Putin até ele se render e pagar tudo que estragou? Esse discurso não ajuda. Na minha opinião, o que ajuda é um discurso que diz, ‘vamos sentar primeiro, vamos esfriar a cabeça, vamos começar a conversar’, e às vezes leva tempo”, disse o presidente brasileiro.
Lula tinha amenizado o tom sobre os americanos depois da declaração feita em abril, nos Emirados Árabes Unidos, de que Europa e Estados Unidos contribuem para prolongar a guerra. A fala levou a Casa Branca a dizer que Lula “‘papagueia’ propaganda russa”.
Na cúpula do G7, portanto, Lula voltou a criticar a posição dos americanos sobre a guerra.
Emergentes buscam paz que ricos não alcançam
Lula sugeriu que a solução para o conflito poderá vir dos países do chamado Sul Global, em referência às principais potências emergentes.
“Eu já conversei com [o presidente chinês] Xi Jinping, eu conversei com a Índia ontem, eu conversei com a Indonésia ontem. Então, é um grupo de países do Sul que quer encontrar a paz que o Norte não está conseguindo fazer. Portanto, tem uma parte que quer a guerra e uma parte que quer a paz. Eu espero que quem quer a paz saia vencedor disso”, disse Lula.
Lula tem reforçado que o Brasil não é neutro sobre a guerra, que condena a invasão à Ucrânia e que adotou essa posição, inclusive, na ONU. Mas, acima de tudo, o governo quer mostrar que é a favor do fim do conflito. Ele acredita que endossar a posição da Ucrânia de obter mais armas com aliados para derrotar a Rússia só prolonga a guerra.
Para Lula, a solução para o conflito não é militar, como defendem o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e alguns países aliados, mas política, e isso envolve concessão dos dois lados.
Um dos destaques do G7 foi o anúncio dos Estados Unidos de nova ajuda militar de US$ 375 milhões à Ucrânia, que inclui treinamentos para o uso dos caças F16. A medida foi vista como um primeiro passo para a entrega dos aviões de combate, pedidos por Zelensky.