Netanyahu é alvo de protestos e votação no Parlamento que pode levar ao fim de seu governo
Milhares de manifestantes foram às ruas de Tel-Aviv e Jerusalém no fim de semana, nos maiores protestos desde o início da guerra contra o Hamas. Os manifestantes criticaram o governo por não ter conseguido obter a libertação dos reféns ainda mantidos pelo Hamas e pediram novas eleições.
No ano passado, durante uma trégua negociada com o Hamas, 105 reféns foram soltos, trocados por palestinos em prisões israelenses. Restam 130 reféns, dos quais cerca de 100 ainda estariam vivos, estimam as autoridades.
Outra ameaça, ainda mais palpável, é a proposta de lei do governo que tramita na Knesset, o Parlamento israelense, sobre o fim da isenção do alistamento militar obrigatório de judeus ultra-ortodoxos, chamados “haredim”. Ao tentar alegrar a todos, a proposta frustra tanto os religiosos quanto os seculares e nacionalistas.
Os ultra-ortodoxos que apoiam o governo de Netanyahu ameaçam abandonar a coalizão — e assim forçar a convocação de novas eleições — porque não querem o fim da isenção. Já os seculares e nacionalistas, a maioria na oposição, acham ultrajantes as cotas criadas pela nova lei, que ainda permitirão que grande parte dos religiosos continue livre do recrutamento. Isso, em meio a uma guerra que já matou 600 soldados, segundo as autoridades israelenses.
Pesquisas de opinião mostram que, se houvesse eleições, o grupo de Netanyahu seria derrotado e iria para a oposição.
Quando o Hamas lançou os ataques terroristas, há quase seis meses, Netanyahu enfrentava protestos que reuniam centenas de milhares de pessoas, contra a proposta do governo que retira a autonomia da Suprema Corte. Ele e alguns de seus ministros sofrem processos na Justiça.
A guerra adiou essa discussão. Agora, mais uma vez sob pressão, Netanyahu parece recorrer à escalada e ao prolongamento da guerra como forma de se manter no poder.
A pressão não é só interna. O presidente Joe Biden se distanciou do primeiro-ministro israelense. Além das críticas públicas de Biden aos bombardeios indiscriminados na Faixa de Gaza, os secretários de Estado e de Defesa dos EUA receberam em Washington o general Benny Gantz, membro do gabinete de guerra e líder oposicionista, desautorizado por Netanyahu de representar o governo.
O distanciamento culminou na abstenção americana na votação da resolução do Conselho de Segurança que exigiu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Ao provocar uma eventual escalada e ampliação do conflito, Netanyahu elevaria o custo político, para o governo americano, da retirada do apoio incondicional a Israel.