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NEW YORK TIMES 🗞 O telegrama ainda faz sucesso no Japão

O telegrama, uma forma de comunicação associada mais aos anos 1920 do que aos anos 2020, ainda se mantém no Japão, onde milhões de mensagens cruzam a nação anualmente, carregando votos de felicidades, de pêsames e agradecimentos. Velhos amigos os mandam para funerais, políticos os enviam aos eleitores e as empresas os usam para comemorar a aposentadoria de funcionários.

Ao contrário da difamada máquina de fax – frequentemente mencionada como prova da resistência teimosa do Japão à era digital –, o telegrama é um símbolo do amor do país pelo decoro. (Sim, é possível solicitar o envio de um telegrama por fax.) Para muitos japoneses de certa idade, o meio – extravagante, formal e nostálgico – é a mensagem.

Segundo Kaoru Matsuda, consultor político, o telegrama permaneceu em uso porque causa uma “impressão mais educada. Nos negócios e na política, o fax é usado muito casualmente e parece muito profissional. Quando se trata de condolências, por exemplo, o telegrama é melhor”.

O Japão está longe de ser o único país onde o telegrama ainda existe. Continua sendo um meio de comunicação útil, embora cada vez mais raro, em lugares onde a pobreza e a infraestrutura limitam o acesso ao telefone celular e ao e-mail.

Em nações mais ricas, esse tipo de comunicação ainda pode carregar peso legal ou cerimonial. Quando o presidente Joe Biden contraiu covid há alguns meses, o líder chinês, Xi Jinping, enviou-lhe um telegrama com votos de rápida recuperação. Depois da morte da rainha Elizabeth II, líderes mundiais enviaram condolências mediante esse recurso.

Mas os dias de seu uso convencional são coisa do passado. A Western Union, que já foi sinônimo de telegrama, parou de enviá-lo em 2006. Na Índia, um dos últimos grandes redutos nacionais, o serviço estatal foi encerrado em 2013, depois de 162 anos. Os serviços de telegrama que permanecem mudaram muito desde que o telégrafo, invenção de Samuel Morse, acabou com o negócio da Pony Express.

Hoje, a mensagem é encomendada sobretudo on-line e transmitida digitalmente antes de ser impressa e entregue em mãos. No Japão, o remetente pode escolher entre uma variedade de fontes e elegantes estoques de cartões e selecionar um presente em catálogos cheios de artigos de luxo e itens de marca – Disney e Hello Kitty são bastante populares. Flores ou animais de pelúcia são escolhas comuns para casamentos; o incenso, para funerais.

O esquema de pagamento também evoluiu: em vez da cobrança por caracteres, como antigamente, o cliente paga uma taxa fixa para determinado número de caracteres, e paga um extra se ultrapassarem o limite. A essência do telegrama, no entanto, permaneceu: uma mensagem concisa impressa em um cartão pequeno e entregue (relativamente) depressa.

A transformação do telegrama em etiqueta foi um processo de décadas. Seu uso atingiu o pico no Japão em 1963, quando o meio – então considerado o padrão ouro da comunicação urgente – foi usado para enviar cerca de 95 milhões de mensagens, de acordo com um relatório do governo que avalia o estado recente da indústria.

Na década de 1990, esse tráfego caiu quase pela metade. Ao mesmo tempo, o conteúdo das mensagens passou por uma evolução inesperada: quase todas transmitiam parabéns ou condolências.

Em 2020, ano mais recente com dados disponíveis, mais de quatro milhões de telegramas foram entregues no Japão. Isso o torna o terceiro maior mercado para o meio, atrás da Rússia e da Itália, segundo estatísticas fornecidas pela International Telegram, empresa privada que fornece serviços de telegrama no mundo inteiro. (A empresa divulgou que, nos Estados Unidos, menos de um milhão deles são enviados anualmente.)

A maior parte dos telegramas no Japão é expedida pela Nippon Telegraph and Telephone, conhecida como NTT. A empresa, que começou como uma entidade estatal, garantiu o monopólio dos telegramas quando foi privatizada em 1985. Em troca, teria de prestar o serviço por tempo indeterminado.

Sob o monopólio da NTT, a indústria estagnou, e o lucro da empresa acabou desaparecendo. Mas, à medida que as reformas governamentais abriram o negócio para a concorrência nas últimas duas décadas, várias pequenas empresas surgiram, introduzindo inovações como solicitações on-line, que ajudaram o setor a sobreviver. Para essas empresas, os telegramas continuam sendo um negócio de nicho que dá dinheiro.

Keisuke Yamamoto, presidente da Roys International, começou seu empreendimento há 15 anos. Na época, trabalhava com licenciamento e tinha notado uma demanda crescente por telegramas que usavam marcas populares e personagens como Peter Rabbit e Paddington Bear. O mercado girava 45 bilhões de ienes, ou cerca de US$ 325 milhões atuais, e ele percebeu que “pegar só um por cento disso já seria um bom negócio”. Yamamoto diferenciou sua empresa ao associar as mensagens com presentes que atraíssem uma geração mais jovem. “Funcionou. A NTT roubou nossas ideias ao longo dos anos.”

A pandemia prejudicou o tráfego de telegramas, porque as pessoas passaram a evitar grandes eventos, como casamento e funeral, mas os clientes se tornaram mais propensos a enviar mensagens com presentes caros, contou Toshihiko Fujisaki, que chefia o departamento de planejamento corporativo da Sagawa Humony, empresa que oferece serviços de telegrama e que tem tentado atrair os jovens, dando aos universitários a oportunidade de experimentar o serviço uma vez. Além disso, está trabalhando em um aplicativo para smartphone. “Os jovens não conhecem o telegrama. Estão acostumados com o smartphone. Mas, em comparação com um e-mail ou uma mensagem de texto, tem muito mais emoção quando você recebe um telegrama.”

c. 2022 The New York Times Company

Telegrama de felicitações e flor preservada recebidos por Hiroshi e Asuka Kanno por ocasião de seu casamento. (Noriko Hayashi/The New York Times)

Opções de telegramas. No Japão, os casais leem em voz alta os telegramas que recebem na cerimônia, os amigos os enviam em ocasiões como funerais, os políticos os mandam para membros do eleitorado e as empresas investem neles diariamente. (Noriko Hayashi/The New York Times)

Redação GOYAZ

Redação: Telefone (62) 3093-8270

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