Presidentes do Uruguai e do Chile criticam Lula por defesa do regime venezuelano
Na reunião da cúpula dos países da América do Sul, presidente do Brasil propôs a integração em 10 áreas: moeda comum, economia, regulação, atualização da cooperação, infraestrutura, meio ambiente, saúde, energia, educação e defesa.
O presidente Lula recebeu nesta terça-feira (30), em Brasília, dez presidentes sul-americanos. Ele foi criticado pelo discurso de segunda-feira (29) em defesa da Venezuela e disse que as divergências fazem parte desse tipo de reunião.
Além de Lula, estavam presentes Nicolás Maduro, da Venezuela; Chan Santokhi, do Suriname; Luis Lacalle Pou, do Uruguai; Irfaan Ali, da Guiana; Guillermo Lasso, do Equador; Mario Abdo Benítez, do Paraguai; Gabriel Boric, do Chile; Luis Arce, da Bolívia; Alberto Fernández, da Argentina; e Gustavo Petro, da Colômbia.
Alberto Otárola, presidente do Conselho de Ministros do Peru, representou o país. A presidente, Dina Boluarte, enfrenta uma crise institucional que a impediu de deixar Lima.
Esse encontro é um primeiro passo na busca de consenso que una os países da região em torno de prioridades comuns. O presidente Lula, que promoveu a reunião, começou propondo a integração em dez áreas: moeda comum, economia, regulação, atualização da cooperação, infraestrutura, meio ambiente, saúde, energia, educação e defesa.
A moeda comum seria uma referência monetária própria da América do Sul, que substituiria o dólar nas transações comerciais.
No meio ambiente, a ideia é ter ações coordenadas entre os países. Na saúde, Lula propõe reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, para a adoção de medidas que ampliem a cobertura vacinal e a assistência às populações mais carentes e os povos indígenas.
Lula propôs ainda um prazo de 120 dias para que os governos do continente definam um novo desenho de integração regional.
“Deixamos que as ideologias nos dividissem e interrompessem o esforço da integração. Abandonamos canais de diálogo e mecanismos de cooperação e, com isso, todos perdemos. Senhoras e senhores, tenho firme convicção de que precisamos reavivar nosso compromisso com a integração sul-americana. Os elementos que nos unem estão acima de divergências de ordem ideológica”, afirmou o presidente do Brasil.
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Depois de Lula, cada presidente pode falar por 15 minutos. Era para ser uma sessão reservada, mas o uruguaio Lacalle Pou transmitiu a fala dele em uma rede social. De direita, ele criticou a existência de diversos grupos regionais, como Mercosul, Celac, Prosul e Unasul. Alguns deles se tornando o que chamou de “clubes ideológicos”.
“Basta instituições. Passemos ao tema da Unasul. Vamos dar nomes às coisas. Quando assumimos o governo, nos retiramos da Unasul. Em seguida, nos chegou o convite ao Prosul e dissemos que não. Por algo que foi dito aqui por vários presidentes, sobretudo o presidente Abdo, porque senão acabamos sendo clubes ideológicos”, disse Lacalle Pou.
Lacalle também criticou a fala de Lula, que na segunda-feira (29) chamou de “narrativa” as críticas de boa parte do Ocidente sobre a falta de democracia e o autoritarismo do governo da Venezuela.
“Agora, essa reunião foi antecedida, não sei se de forma planejada ou não, por uma reunião bilateral entre Brasil e Venezuela. E há uma declaração que se está negociando nesse momento, que tenho o rascunho agora aqui. Eu, presidente, devo dizer a você que fiquei surpreso quando falaram que o está acontecendo na Venezuela é uma narrativa. Vocês já sabem o que pensamos sobre a Venezuela e o governo venezuelano. Ora, se há tantos grupos no mundo que estão tentando mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que se respeite os direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tampar o sol com um dedo”, afirmou Lacalle Pou.
O presidente do Chile deixou o encontro mais cedo por compromissos internos no país. Em entrevista antes de ir embora, Gabriel Boric, de esquerda, também criticou o discurso de Lula em relação a Venezuela.
“Nos alegra que a Venezuela retorne às instâncias multilaterais, porque acreditamos que é nesses espaços que se resolvem os problemas e não com declarações onde somente atacamos uns aos outros. Isso, porém, não pode significar deixar na sombra ou fazer vista grossa para temas que são importantes para gente desde o início. Eu manifestei respeitosamente que tenho uma discrepância com o que o senhor presidente Lula disse ontem, no sentido de que a situação de direitos humanos na Venezuela é uma construção narrativa. Não é só uma construção narrativa. É uma realidade. É séria. E eu tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que vivem na nossa pátria e que exigem também uma posição firme e clara de respeito a que os direitos humanos devem ser respeitados sempre e em todos os lugares, independente de cor política, do governante da vez”, disse.
O encontro terminou com a assinatura de uma carta de intenções. Entre outros pontos, o grupo reafirmou “a visão comum de que a América do Sul constitui uma região de paz e cooperação, baseada no diálogo e no respeito à diversidade dos nossos povos, comprometida com a democracia e os direitos humanos”.