TV 📺 Bolsonaro perde a linha e rasga a fantasia ao ser peitado por mulheres em debate
Jair Bolsonaro (PL) tinha como uma das principais missões no debate promovido pela TV Bandeirantes, no domingo (28), que sabia se comportar longe do cercadinho para conseguir votos do eleitor moderado, sobretudo as mulheres.
A fantasia não chegou até o segundo bloco.
No primeiro, ele lançou a armadilha sobre o ex-presidente Lula (PT) ao colocar na roda as palavras “corrupção”, “Palocci”, “Petrobras” e “prejuízo” para alimentar as buscas em segunda tela de quem acompanhava o embate.
Lula repetiu o que já havia dito ao Jornal Nacional: que, em seu governo, as instituições de controle foram fortalecidas e que corrupção só se combate quando se revela. Mas levou um tempo para dizer que foi considerado inocente dos processos pelos quais respondeu ao longo da Lava Jato, inclusive pela ONU, e que só foi preso em 2018 para não ser eleito naquele ano. Deixou em aberto uma resposta mais incisiva sobre Palocci.
Bolsonaro poderia dizer que venceu o primeiro duelo ao tentar colar em Lula a pecha de candidato corrupto e vender a ideia, sem tempo e espaço para ser refutado, de que montou um ministério apenas com critérios técnicos. (Como se seu ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tivesse sido escolhido por sua qualificação em política pública com certificado em Harvard, e não por ser um dos próceres mais ativos do “centrão”).
Lula teve tempo de citar números favoráveis a ele nos campos da economia e educação, como previsto. Quem esperava um compromisso de que velhos personagens de antigos escândalos ficariam longe de uma futura administração se frustrou.
Se o confronto entre Lula e Bolsonaro era o momento mais aguardado da noite, vieram das candidatas mulheres os petardos mais incisivos sobre o atual presidente.
Simone Tebet, do MDB, puxou a artilharia. Disse que não viu, durante a pandemia, o mandatário pegar sua moto para ir a um hospital e dar um abraço em nenhuma mãe que perdeu um filho para a covid-19.
Bolsonaro, logo depois, mostrou irritação ao comentar uma pergunta da jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, sobre a queda da cobertura vacinal no país. O candidato à reeleição não respondeu. Preferiu dizer que a profissional era uma “vergonha” para o jornalismo brasileiro e esticou a bronca para a candidata do MDB ao lembrar de sua participação na CPI da Covid.
A menção ao tema das vacinas o fez sair da linha, para a qual não voltaria até o fim do debate.
Tebet listou índices sobre violência contra a mulheres no Brasil, disse ter sido alvo de violência política e fake news promovidas por bolsonaristas e disse que não iria se intimidar.
Soraya Thronicke, candidata do União Brasil, manifestou solidariedade a Vera Magalhães e à colega e acusou Bolsonaro de ser “tchutchuca com outros homens, mas tigrão com as mulheres”.
Fez assim o Twitter explodir.
Ela acusou o presidente de estimular o ódio entre brasileiros e lembrou que em seu estado, Mato Grosso do Sul, havia mulher que virava onça, numa referência à personagem Juma, da novela Pantanal.
No terceiro bloco, Tebet voltou ao ataque lembrando o histórico de ataques de Bolsonaro contra mulheres, entre os quais suas homenagens a um torturador confesso na ditadura. Ela escolheu Bolsonaro para fazer a sua pergunta. E a pergunta era por que ele tinha tanta raiva das mulheres.
Bolsonaro tentou se mostrar mais calmo e disse que seu governo foi o que mais promulgou leis em defesa das mulheres, mas correu para escorregar na casca de banana ao acusar a adversária de “vitimismo” e “mimimi”.
Não soube citar uma lei de bate-pronto, a não ser um programa de voluntariado, um gancho para chamar a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em seu socorro.
Depois se saiu dizendo que era contra o abordo, a liberação das drogas, defendia as famílias, a propriedade privada —e que tudo isso beneficiava as mulheres.
Só mais tarde, com uma cola nas mãos, ele listou políticas voltadas às mulheres em uma pergunta para Ciro Gomes (PDT).
Ciro respondeu que sua conduta agressiva contra mulheres e declarações, como a de que teria fraquejado quando teve uma filha mulher levavam as pessoas a desconsiderar suas políticas. E deu um jeito de citar o índice de mulheres endividadas no país.
Bolsonaro disse que já tinha se desculpado pela fala sobre sua filha e lembrou que Ciro, em sua candidatura em 2002, afirmou que o papel de sua então companheira, Patrícia Pillar, na campanha era dormir com ele. Ciro acusou Bolsonaro de mau caratismo ao trazer à roda uma declaração estúpida feita há 20 anos pela qual já manifestou arrependimento e ainda acusou Bolsonaro de não ter coração ao lembrar sua postura durante a pandemia. Acabaram abraçados no constrangimento.
Numa dobradinha inesperada, Bolsonaro voltou a ser citado por Tebet quando ela foi instada por Lula a dizer se houve corrupção no atual governo e o que ela pensava sobre sigilo de cem anos sobre atos de integrantes da administração. Ela subiu o tom ao dizer que houve tentativa de comprar vacinas superfaturadas da Covaxin e classificou o orçamento secreto como o maior esquema de corrupção da história.
Bolsonaro pediu duas vezes direito de resposta. Apenas um foi aceito. Ele teve 40 segundos para dizer que tudo não passava de fake news e que não tinha responsabilidade sobre o orçamento secreto, a ferramenta que selou seu casamento com o “centrão” e garantiu sua sobrevida quando começaram a chover processos por supostos crimes de responsabilidade.
Aproveitou a brecha para chamar o adversário de “presidiário”, mas já não exibia o mesmo figurino dos primeiros minutos de debate. Para seu eleitor-raiz, talvez as patadas tenham recebido aplausos; mas certamente ele perdeu a chance de estabelecer alguma ponte (e votos) entre eleitores moderados. Entre as mulheres sua rejeição rondava os 54% no último Datafolha.
As duas mulheres na disputa contribuíram para selar o que pode ser o divórcio definitivo entre Bolsonaro e o eleitorado feminino.